"... hoje ele mudou
já não é mais aquele sujeito pacato
é mais conhecido por Unha de Gato
que ao morro voltou
é mais um marginal"
Prezados amigos,
Grande samba, esse dos versos acima, em que o personagem Benedito Pereira perfaz uma trajetória oposta à de Pedro dos Santos em "Pedro do Pedregulho", de Geraldo Pereira, em outro samba magistral: Pedro indo da delinquência à regeneração; Benedito, da pacatez à transgressão. Composto com Antônio Valente, "Unha de Gato" - que inspirou a criação de um grupo de samba e choro de Niterói, do cavaquinhista Daniel Scisinio - é uma das maravilhas da lavra de Elton Medeiros (foto ao lado), em cujo RG (Elto Antonio de Medeiros) parece faltar o "ene artístico" que "sobra" no nome real de um dos seus mais celebrados parceiros, Cartola (Angenor de Oliveira no RG), com o qual divide a autoria de, por exemplo, duas preciosidades: "Peito Vazio" e "O Sol Nascerá", esta com cerca de 60 gravações. Elton, filho de ranchista e, no futebol, um raro torcedor do Olaria, nasceu na Glória, criou-se em Brás de Pina, onde fundou o bloco - depois escola de samba já extinta - Tupi de Brás de Pina -, e, até notabilizar-se pelo uso rítmico da caixinha de fósforos (que "afinava" pela retirada de três ou quatro palitos, deixando-a minimamente aberta para bater, num procedimento e tipo de execução diferentes dos adotados por Cyro Monteiro), já havia tocado diversos instrumentos, como o sax e o trombone (aprendidos no colégio interno João Alfredo, em Vila Isabel), este um instrumento que exercitou animando bailes de gafieira. Em 1963, no Zicartola, famoso restaurante de Cartola e Dona Zica, de curta mas intensa existência, conheceu Paulinho da Viola, seu parceiro mais constante, com quem, entre outros sambistas, dois anos depois, se projetaria, para público amplo, no musical "Rosa de Ouro", vindo da ala de compositores da escola de samba Aprendizes de Lucas, que, mais tarde, no mesmo bairro, agregada à Unidos do Capela, contou com ele na formação de uma nova escola e sua de coração, a Unidos de Lucas.
"...vou buscar aquele amor tão meu
sair andando a perguntar
qual o caminho por onde ele foi
e por onde foi irei também
até o coração achar
que simplesmente não achou
e aí, então, vou entender
que, ao buscar, eu me perdi
de tudo aquilo que eu sou".
Outro grande samba, com letra excepcional de Hermínio Bello de Carvalho para outro traço marcante do pendor musical de Elton Medeiros: a sua capacidade de criar lindas e envolventes melodias, sobretudo as de expansão mais intimista no disco, como nessa "Folhas no Ar". Formado em administração de empresas pela Faculdade de Ciências Políticas e Econômicas do Rio de Janeiro e homem de convicção, contrário ao que entende como folclorização do sambista - "tem gente que imagina que, para fazer samba, é preciso frequentar botequim", observa -, Elton Medeiros será homenageado, em grande estilo, pelo talentoso compositor e bandolinista Pedro Amorim e três ótimas formações instrumentais nesta sexta, 20 de agosto, a partir das 21h30, na sede do tradicional Bola Preta. Ecos ainda do seu recém-chegado octogenário, no dia 22 de julho último. A esse velho amigo do meu pai (que faz 81 no próximo dia 26), dos tempos de batente na Rádio Roquette-Pinto nos anos 60, também me associo - encantado que estou, há tantos anos, com a sua obra - nos parabéns retrospectivos, dedicando-lhe estas modestas linhas de destaque como homenagem.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
Um abraço,
Gerdal
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