Moacir Santos |
Prezados amigos,
Não era apenas um só, mas tantos, como observou o parceiro Vinicius de Moraes no "Samba da Bênção" (feito por este e por Baden Powell), tantos num só na capacidade de criar, juntar notas e compassos, harmonizar sons e produzir "beleza pura" para os ouvidos, o coração e a alma, tantas as coisas, numeradas ou não, que vinham de si e se expressavam exemplarmente em tantos instrumentos - parte dos quais tocava -, como no porta-joias musical intitulado "Ouro Negro", produção esmerada de Zé Nogueira e Mário Adnet. Um CD duplo em que o Maestro, como que emergindo das páginas amarelecidas de uma revista, viu recorar-se com sonoridade cheia a sua obra, também pra tantos, entre discípulos e admiradores.
Tantos ainda o Destino, polinominado e sempre intrigante para a percepção humana, e só ele - como bem o situa nessa imprecisão o compositor e escritor Nei Lopes, na apresentação da referida homenagem - para explicar, como, do passamento em Pasadena, na Califórnia, em 2006, retrospectivamente, até o nascimento, em 1926, em Flores do Pajeú, no íngreme sertão pernambucano, órfão aos três anos de idade e "preenchendo" na infância e adolescência os "requisitos básicos" para a exclusão social, pôde, entre todos os santos e Santos do Brasil do Poetinha e de todos nós, um negrinho Moacir, no movimento inverso que de novo o leva aos EUA, após peripécias interurbanas pela sobrevivência no Nordeste e muitos anos de trabalho no Rio de Janeiro - como músico e maestro nos anos dourados da Rádio Nacional, além de professor de Baden Powell, Geraldo Vespar, Roberto Menescal, Oscar Castro Neves e Eumir Deodato, entre outros craques -, conquistar a admiração de, também tantos, colegas estrangeiros de prestígio, começando pelo pianista norte-americano Horace Silver.
Flyer do show no Lapinha |
De Moacir Santos o inspirado Nei Lopes tornou-se parceiro ao pôr letra, por exemplo, em "Luanne", transformada em "Sou Eu" e gravada por Djavan em "Ouro Negro", um tema que, ainda em versão instrumental, conheceu, em 2006, um magnífico registro no CD "Renovando as Considerações", ao som do trombone nota dez do petropolitano Vittor Santos. Nesta quarta-feira, 15 de setembro, no Lapinha (Av. Mem de Sá, 82 - sobrado - Lapa - tel.: 2507-3435), às 21h30, poderá ser ouvido, creio, no "set list" da apresentação do Trio 3-63, formado pela flautista Andrea Ernest Dias - filha de uma francesa, também flautista e professora de música há muito vivendo no Rio, Odette Ernest Dias -, pelo percussionista Marcos Suzano e pelo pianista Paulo Braga ("flyer" abaixo). "Se uma estranha paz te vestir de azul, não te espantes não, sou eu..." E é ele, sim, Moacir Santos, o destaque de uma noite carioca musicalmente abençoada.
Um bom dia a todos. Muito grato pela atenção à dica.
Um abraço,
Gerdal
Pós-escrito: nos vídeos abaixo, 1) cenas com Moacir extraídas do "making-of" de "Ouro Negro", coerentemente patrocinado pela Petrobras; 2) o próprio 3-63 dando nova "forma" uma das "coisas" do Maestro; 3) também dele, "April Child", tocada por uma rapaziada do ramo, lá de Brasília
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