Estamos em plena época das festas juninas, que já há algum tempo tornaram-se julhinas e até agostinas. Com a esticadinha dos festejos de São Pedro, Santo Antônio e São João, é uma chance de ouro para ouvirmos mais e mais da obra de Luis Gonzaga do Nascimento. Este cabra bom nascido em 13 de dezembro de 1912 na fazenda Caiçara, no sopé da serra de Araripe, zona rural de Exu, no sertão de Pernambuco, tornou-se rei. Um dos reis de nossa música, garantindo seu lugar na galeria das feras como o Rei do Baião e fonte de inspiração para discípulos preciosos como Oswaldinho e Targino Gondim, entre tantos outros que seguem sua trajetória empunhando uma sanfona, acompanhados de zabumba e triângulo.
É importante que os jovens, as crianças, conheçam a trajetória de gênios como Seu Luis, nome como era chamado por todos. Mas por aqui é uma treva, como dizia a personagem da Isabelle Drummond, em Caras e Bocas. Nos Estados Unidos, por exemplo, lembraram do pernambucano nascido na pequena cidade de Exu nos dez anos de sua morte, em 99. A homenagem aconteceu no Lincoln Center, em Nova Iorque, com shows, mostra de fotos, objetos e exibições de vídeos. Que bom se por aqui seguissem o exemplo. Ano que vem, por exemplo, se estivesse vivo, completaria 100 anos.
Seria um luxo ter este rei velhinho com saúde, contando sua histórias por aqui, né mesmo? Tive o privilégio de ter conhecido sua majestade do forró em sua casa na Ilha do Governador. E ouvi um pouquinho dessas historias. Era Luis por ter nascido no dia de Santa Luzia, padroeira dos olhos. E era Gonzaga por conta de São Luis Gonzaga, outra homenagem. O apelido Lua foi dado por Paulo Gracindo, no programa da Rádio Nacional, na década de 40. Um matuto que em pequeno trabalhou na roça e cedo tocava em bailes, forrós e feiras, seguindo os passos de seu pai, o sanfoneiro Januário. E que se transformou no Rei do Baião, um ídolo da época de ouro do Rádio, nos anos 40 e 50. Foram cerca de 300 composições, entre xotes, canções juninas, toadas, marchas, valsas, calangos, cocos, maxixes, emboladas, xaxados, polcas, choros, mas sempre com a marca do Rei do Baião.
Após tocar em festas e bailes em sua terra, entrou para o Exército. E, foi quando deu baixa aqui no no Rio de Janeiro, em 1939, que sua trajetória musical embalou. No começo tocava fox, samba e chorinho na zona do meretrício, mesmo repertório com o qual se apresentava em programas de calouro. Foi num desses programas, na Rádio Nacional, que viu o músico gaúcho Pedro Raimundo tocando acordeão e usando trajes típicos. A partir daí trocou o paletó e a gravata pela roupa de vaqueiro, que o consagrou. Nesta mesma época adotou um menino que viria se tornar um dos grandes nomes de nossa música e deu seu nome a ele: Luiz Gongaza do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, criado no Morro de São Carlos. Entre seus parceiros mais fiéis estão Humberto Teixeira (Asa Branca, Respeita Januário, Baião, Assum Preto, No
Meu Pé de Serra, Imbalança) e Zé Dantas (O Xote das Meninas, Riacho do Navio, Sabiá, Cintura Fina, Vem Morena). E, ao nos deixar no dia 2 de agosto de 1989, Luis Gonzaga deixou também estes e muitos outros sucessos, sua forma característica de cantar e o resfolego da sanfona que só se faz aqui no Brasil. Um viva pro Lua, pro Seu Luis, pro Rei do Baião.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não é necessária a sua identificação para enviar comentários. No entanto, lembramos que, neste blog, é proibido o uso de termos pejorativos, ofensivos ou discriminatórios.
Seu comentário está sujeito à validação dos administradores.