quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Silêncio

A Cia dos Comuns traz para a cena Silêncio - espetáculo teatral que transita no universo dos gritos emudecidos, calados e indizíveis à compreensão humana, subjugados em conseqüência do preconceito racial.


Silêncio não possui uma narrativa linear: são “histórias”, na verdade, trechos de pensamentos e lampejos de loucuras, extraídas das discussões do elenco - suas percepções sobre o mundo, a loucura e o racismo, resultando na criação de uma obra dramatúrgica coletiva, que conta, ainda, com contribuições dos autores Ângelo Flávio, Cidinha da Silva e Fernando Coelho Bahia, além de fragmentos da obra “Ressurreição”, de Cruz e Sousa. O espetáculo privilegia muito mais a comunicação através do corpo e do som do que a palavra.
Hilton Cobra, diretor da Cia dos Comuns, explica “Nessa direção, assumi o risco de colocar em cena um espetáculo indizível, com uma linguagem inspirada no surrealismo, que se traduzisse em uma peça de dança e música com interseções teatrais. Silêncio não é efetivado sobre a égide de uma estrutura linear. Transita no universo da loucura regido por uma estrutura fragmentária, a exemplo da nossa mente inconsciente, que guarda os mais inconfessos silêncios. Ao mesmo tempo, essa fragmentação não poderia prejudicar a linguagem, o espectador teria que ser levado à reflexão”.

Para Cobra, a concepção de Silêncio parte do seguinte questionamento: quais os gritos tiveram que e ainda precisam ser silenciados para “atender” a um conjunto de normas e padrões impostos por uma sociedade que não respeita a diversidade e impinge o racismo? “A loucura, ou as formas de loucura potencializadas pelo racismo, deveria fazer parte desse “delírio”. Antigamente, dizia-se que a loucura era a “profunda perturbação do espírito”. Já que nossas inquietações também são antigas, então, indagamos: como reage o espírito de uma pessoa, obviamente negra que, durante toda a sua existência, sente que a qualquer momento poderá ser vitima do racismo?”

Para dar forma a Silêncio, Hilton Cobra conta com o talento do coreógrafo Zebrinha, desenhando as coreografias e movimentos cênicos; a direção musical de Jarbas Bittencourt, responsável pela composição da trilha do espetáculo; os figurinos de Biza Vianna e o desenho de luz de Jorginho de Carvalho. O elenco é constituído de nove atores, sendo Ana Paula Black, Bruno Gomes, Gabi Luiz e Sarito Rodrigues, convidados; Cridemar Aquino, Débora Almeida, Fábio Negret, Rodrigo dos Santos e Valéria Monã, integrantes da Cia dos Comuns desde a sua criação, em 2001.



Por Marina Cunha

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