Ovídio cantava com manha e muita bossa |
E, por mais que aconteça, não estamos acostumados com a perda. Ainda mais de alguém que merecia todo o respeito. Este garoto de apenas 65 anos. E que trazia na alma a mais pura tradução do que é ser um percussionista. Nos estúdios de gravação era uma das referências quando o assunto era a cuíca. Com uma sensibilidade fora do comum para alternar os sons agudos e graves fez por merecer todos os elogios que recebeu.
Tive a sorte de dirigir um DVD, o Raça Brasileira – 20 Anos, em 2004, gravado no Circo Voador, em plena Lapa, com Ovídio no palco. Lá estava ele com sua inseparável cuíca, seu tamborim, seu pandeiro e seu contagiante sorriso. Porém, não me esqueço de uma gravação de um cd que produzi e que acabou não saindo, de um grupo chamado Sonho Real, que se desfez. Era o samba Só por um Momento, de Jorge Aragão. Pedi ao mestre que fizesse uns ataques de dois em dois versos. E ficou perfeito. Com um sentimento sem igual. E de primeira.
Conheci Ovídio no estúdio da Som Livre, em Botafogo, em minha estréia na produção de um disco, como coordenador das produções de Mílton Manhães. Foi no LP Sorriso Novo, de Almir Guineto, com direito a show de uma famosa cuíca. E também esteve comigo no musical Lição de Samba, na Sala Baden Powel, em Copacabana. Tocou sua cuíca, cantou samba enredo e ainda fez um duelo com Carlinhos Tcha Tcha Tcha dizendo miudinho.A alegria de Mestre Ovídio e sua amiga cuíca |
Que falta você vai fazer no palco de Arlindo Cruz. Que falta vai fazer nos estúdios de gravação. Que falta você já está fazendo, camarada. Menos nos corações e na memória dos amigos. Nestes lugares você estará sempre vivo.
E, como escrevi no título, hoje a cuíca perdeu o choro...
Marcos Salles
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