Repasso abaixo texto do amigo Carlos Monte, pai da cantora Marisa Monte, pesquisador da nossa música popular e coautor (com o professor João Baptista Vargens, da Faculdade de Letras da UFRJ) do livro "A Velha Guarda da Portela". Ele está à frente de uma série carnavalesca de shows que o Sururu na Roda, liderado pelo talento de Nilze Carvalho, faz todas as sextas deste janeiro - hoje, portanto, é dia -, às 22h, no Bola Preta. O Carlos, em suas linhas, explicita a motivação da sua bem-vinda iniciativa, que reúne compositores centenários, e a ele, especialmente, dedico os quatro "links" seguintes (três sambas e uma marcha), relativos a músicas constantes do seu roteiro.
São elas, nesta ordem: "Juracy", de Antônio Almeida e Cyro de Souza, com Vassourinha; "Meu Consolo É Você", de Nássara e Roberto Martins, com Orlando Silva; "Beija-me", de Roberto Martins e Mário Rossi, no "diz aí" de Zeca Pagodinho - com imponente solo de gaita do caruaruense Rildo Hora; e "Alalaô", de Nássara e Haroldo Lobo, uma "pule de dez" da folia imortalizada no disco, curiosamente, pela voz de um daqueles nomes "operísticos" do nosso canto popular, Carlos Galhardo, um "centenário" daqui a dois anos.
Um bom dia a todos. Grato pela atenção à dica.
Um abraço
Gerdal
"Até o início do Século XX, a música popular do Rio de Janeiro não contava com meios de divulgação para tornar-se conhecida de amplos setores da população.
As composições de Chiquinha Gonzaga, João Pernambuco, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros, Cândido das Neves e Joaquim Callado, entre outros, permaneciam quase desconhecidas, embora fossem executadas por grupos de chorões e por bandas militares e pudessem ser ouvidas em peças de teatro musicado e nas festas populares realizadas nas igrejas da Penha e da Glória.
Na primeira década do Século XX, um jovem comerciante austríaco, Fred Figner, funda a Casa Edison, responsável pelas primeiras gravações musicais.
Em 1914, a segunda esposa do presidente Hermes da Fonseca, a jovem caricaturista Nair de Teffé, ofereceu recepções no Palácio do Catete, primeiro ao compositor Catulo da Paixão Cearense e mais tarde aos dançarinos Duque e Gabi, para dançar o maxixe Corta Jaca, de Chiquinha Gonzaga.
Ao organizar reuniões para que artistas saídos do povo se exibissem para seus ilustres convidados, a primeira-dama trouxe à cena o violão, instrumento até então associado apenas à boemia e às tertúlias suburbanas.
Em 1922, na inauguração da Exposição Comemorativa do Primeiro Centenário da Independência, o discurso inaugural do Presidente Epitácio Pessoa é transmitido de uma estação instalada no alto do Corcovado, por iniciativa de Roquette-Pinto.
E no ano seguinte entra no ar a primeira estação transmissora de rádio, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, criada pelo mesmo Roquette-Pinto.
Um jovem e obstinado pernambucano, Adhemar Cazé, aceita o desafio proposto pela fábrica Phillips de encarregar-se da venda de receptores radiofônicos e, graças à sua tenacidade, torna-se o maior vendedor do novo produto.
Segundo Almirante em seu livro No Tempo de Noel Rosa, em pouco tempo o Rio se vê crivado de antenas que emergem dos telhados do casario. É o rádio alcançando inicialmente as residências mais ricas e se espalhando aos poucos depois por todos os bairros da cidade.
Em 1932, Adhemar Cazé cria e dirige o primeiro programa comercial de rádio, o Programa Cazé, que ia ao ar nas tardes de domingo pelas ondas da Rádio Philips. Pela primeira vez, locutores, compositores e músicos, como Noel Rosa, Carmem Miranda, Francisco Alves, Nássara, Cristóvão de Alencar, Braguinha, Silvio Caldas e Almirante, foram contratados e passaram a receber cachês regulares por sua participação no programa.
As gravações musicais elétricas, as transmissões radiofônicas e, mais tarde o cinema falado foram fundamentais para o surgimento de um grande número de novos e talentosos compositores e cantores que deixaram lembranças indeléveis em nossa memória.
Foi sobretudo marcante a contribuição da geração nascida entre 1909 e 1911, que exerceu papel fundamental na cena musical brasileira das décadas de 1930 a 1960, considerada a época de ouro da canção popular, notadamente da música carnavalesca.
Encontrando-se com assiduidade nos ambientes boêmios da época, como o Café Nice, estes artistas realizaram uma intensa colaboração entre si, de que resultaram sucessos inesquecíveis.
Vale citar os nomes de Roberto Martins, Ataulpho Alves, Kid Pepe e Carmen Miranda, nascidos em 1909; Custódio Mesquita, Vadico, Noel Rosa, Antônio Nássara, Cristóvão de Alencar, Haroldo Lobo, Claudionor Cruz e Jorge Veiga, nascidos em 1910; Peterpan, Pedro Caetano, Mario Lago, Assis Valente, Sinval Silva, José Maria de Abreu e Mario Rossi, nascidos em 1911.
Diga-se que quase todos tinham bastante conhecimento musical, sendo capazes de escrever partituras, visto que ainda não existia à época o recurso do gravador portátil, cuja introdução é da década de 1950.
Do mesmo modo que aconteceu com os jovens de hoje, que, apoiados no computador pessoal e na internet, desenvolvem sua criatividade por conta própria, na música, no design e em tantas outras aplicações, os jovens nascidos em torno de 1910 enxergaram no rádio e na gravação uma perspectiva inédita de ocupação profissional para desenvolver seu talento utilizando os novos meios que surgiam.
E apareceram no cenário musical, um após outro, jovens compositores, cantores, locutores, propagandistas que ocupam o crescente espaço radiofônico.
Pesquisando as parcerias carnavalescas destes saudosos “Centenários”, foi elaborado o programa do show Sururu Sacode o Bola Preta, que o consagrado grupo Sururu na Roda, formado por Fabiano Salek, Nilze Carvalho, Camila Costa e Silvio Carvalho, apoiado por mais 4 músicos de grande valor (Naife Simões, Zé Luiz Maia, P. C. Castilho e Pedro Sergio), traz ao palco do novo Cordão do Bola Preta, legítimo reduto da mais tradicional expressão carnavalesca em nossa cidade e cuja fundação ocorreu em 1919, sendo contemporâneo portanto daqueles consagrados compositores cuja obras recordaremos."
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