terça-feira, 14 de novembro de 2006

Um galo que canta em qualquer terreiro

O mundo do samba ganhou mais uma obra: o CD “Fina Batucada”, do Grupo Galocantô. Sempre acreditando na renovação e mostrando que ainda é possível fazer composições que podem ficar marcadas para o futuro, a banda se coloca como uma das grandes revelações do gênero nos últimos anos. O disco traz uma maioria de músicas autorais, apenas três regravações de sambas já conhecidos e algumas composições inéditas de grandes sambistas. Tudo isso é o conteúdo de um trabalho onde a produção toda foi paga do bolso dos próprios músicos, que há cinco anos vêm “batalhando” animando as noites nas casas de samba da cidade.


Fina batucada é um título que representa bem as características do Galocantô, por ser um grupo que tem como principal sustentação de seu bom som a percussão. Para isso é necessária uma forte sintonia entre os elementos, o que não é problema para Pedro Areias, Édson Côrtes, Lula Mattos e Léo Costinha, integrantes que compõem a “cozinha” com surdo, tan-tan, pandeiros e outros instrumentos que dão a cadência no samba. O título do cd também é dado à primeira música, composta pelo vocalista Rodrigo Carvalho em parceria com Fred Camacho que exalta os grandes sambas da história que hoje servem de influência para a nova geração.

Completam a banda o músico Marcelo Correia no violão de sete cordas, responsável pelos arranjos na maioria das músicas, e o cavaquinista Pablo Amaral, autor da irreverente “Galã de Xerém”, feita com o parceiro e ex-integrante do grupo, Edu Tardin. A parte de harmonia também ganha corpo com inclusão de instrumentos de sopro, e de música clássica, assim, aparecem gratas surpresas com participações de músicos como Dirceu Leite, Nicolas Krassik e o maestro Rildo Hora.

Mas as participações não param por aí. Em "Apesar do Tempo", de Zé Luiz e Ratinho pode-se ouvir os versos de improvisos feitos pela velha guarda do Império Serrano; Arlindo Cruz marca sua presença nos partidos "Pra lá de Legal" e "Para Você Voltar", todos de sua autoria; e a eterna madrinha do samba Beth Carvalho também abrilhanta o disco cantando uma das músicas que mais caiu no gosto do público, "Elo da corrente" de Edson Cortes, Niquinho Azevedo e Wantuir. Encerrando o ciclo de convidados, não poderia faltar alguém que, como o próprio grupo, representasse também a nova geração, assim, Diogo Nogueira canta na faixa "Eminência Negra", inédita de Luiz Carlos da Vila e Wilson das Neves.

Além de "Elo da Corrente", Edson Cortes assina ainda mais dois futuros sucessos como "Pão Que alimenta", com Wantuir e Binho Sá; e "Sambista de Fé", - tendo como parceiros os compositores Sadraque e Paulo Franco - uma crítica aos sambas de má qualidade que andam sendo feitos ultimamente. Seguindo uma linha um pouco diferente, Lula Mattos mostra seu trabalho compondo a elogiada "Manhã Seguinte" com Anderson Baiaco e Alexandre Chacrinha, e o partido "Miudinho", com Niko e Ferreira. Com essa proposta os músicos mostram que ainda existe gente boa fazendo ótimas músicas, e que ao contrário do que muitos pensam, o samba não perdeu sua essência, e muito menos, os compositores a inspiração.
O disco conta ainda com uma regravação de "A Volta do Malandro", de Chico Buarque, que ganhou uma versão com uma forte batida de afoxé. Fina Batucada mostra que o samba não foi desvalorizado e ainda pode dar muito mais. Assim como o Galocantô, outros grupos vêm seguindo esse mesmo caminho mantendo a solidez e a eternidade desse movimento que não deve nada à ninguém e sempre estará se renovando sem jamais perder a sua raiz. O Cd pode ser encontrado nos shows que o grupo faz pelo Rio de Janeiro, e também nos lugares onde ele está sempre se apresentando como o bar Trapiche Gamboa, aos sábados, e o Terreiro do Galo aos domingos


Confira o perfil do Galocantô no Lá Na Lapa




Caio Nolasco

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