No compasso da Lapa

A Lapa está voltando a ser a Lapa", o verso do sambista Wilson Batista, feito há quase meio século atrás, se encaixa perfeitamente nos dias de hoje. O bairro que reúne as mais diferentes culturas num único lugar, e que possui uma energia incomparável, voltou a ter sua identidade e sucesso. Atualmente, ir à Lapa nos fins de semana é uma rotina para muitos cariocas, e os principais motivos disso, com certeza, são a necessidade e o prazer de se ouvir um bom samba. A velha e a nova geração oferecem ao público o melhor do gênero mais popular da música brasileira, que é o mais representativo e presente na Lapa.


Quem chegar sem destino certo pela área, de hoje (sexta) a domingo, rapidamente encontrará um samba bom para ficar. As famosas ruas e vielas estão sempre sendo animadas pelos sons de seus pandeiros e cavaquinhos. Na rua do Lavradio, por exemplo, os grupos Deu Branco, Adjasamba, Choro All-Star e Siri no Asfalto fazem a festa hoje nos bares Céu Aberto, Rio Scenarium e Mangue Seco, respectivamente. Na Gomes Freire, rua paralela, o agito fica por conta da mistura de veteranos e jovens promessas no mundo do samba como o compositor Jorginho do Império, no Memórias do Rio, e o grupo Leva Meu Samba no bar Salsa e Cebolinha. Amanhã, na mesma rua, tem show do incomnparável Zeca do Trombone na Casa da Mãe Joana, e duas animadas rodas de samba, uma do grupo Calço de Mesa no Antiqua Sappore, e o famoso pagode do Negão e do Nézio, no bar Mistura Carioca.
No clássico e famoso Clube dos Democráticos, localizado na rua Riachuello, quem comanda o samba é a nova cantora Thaís Villela, que hoje recebe como convidado o genial Wilson Moreira. O salão do clube também fica aberto amanhã com o som de primeira qualidade feito pela Orquestra Republicana, que tem como maestro o músico Marcelo Bernardes. Na Avenida Mem de Sá, o que não falta é casa de show para escolher. Começando pelo mais novo estabelecimento, Casa Brasil Mestiço, que hoje abriga o show da cantora Luciane Menezes, e no sábado, tem como atração o Batuque de Crioulo, jovem grupo que vem se destacando na casa. A poucos metros dali, o Carioca da Gema oferece o show de Teresa Cristina e o Grupo Semente na noite de hoje, e amanhã, o encontro da nova geração feito por Luiza Dionísio e Moyséis Marques. Na vizinha Sacrilégio, os destaques são os grupos Batuque na Cozinha e Toque de Arte.

Quem preferir sair um pouco do "centro" da Lapa, pode encontrar bons sambas nos arredores, como o Centro Cultural Carioca, na Praça Tiradentes, que hoje traz o grupo Sururu na Roda. Tem também o primoroso Pagode da Tia Doca que rola toda sexta na eterna sede do Bola Preta. Em outro berço do samba, na Gamboa, instala-se o bar Trapiche Gamboa, que sempre recebe uma ótima atração. Hoje é o clássico dia da roda de Samba do Gallotti, e amanhã é a vez do categórico samba do grupo Galocantô.

E para quem acha que a Lapa pára no domingo, está muito enganado. Pois, para fechar a semana com chave-de-ouro, ainda dá para sambar com uma roda de samba talentosa no modesto, bonito e agradável Comuna do Semente. O bar, que é um dos maiores beneficiários pela revitalização cultural da área, e já lançou artistas como Teresa Cristina e o Grupo Semente, hoje ainda prima por essa filosofia. A roda de samba é composta por músicos que são figuras fáceis da Lapa, como Alfredo-Del Penho, Moysés Marques, Rafinha, Jade Perrone e Chris Mourão. Além de outros que sempre aparecem para dar uma canja.

Caio Nolasco