Sérgio Silveira. Esse é o verdadeiro nome do Gaúcho, famoso (e único) fotógrafo de botequim atual. Há 37 anos roda o bairro da Lapa com o mesmo expediente: começa às 21 horas em ponto, no Manuel e Joaquim. De lá, o fotógrafo segue para o Capela, onde aborda mais alguns clientes. E nesse pique entra em mais 23 bares, restaurantes e casas noturnas, oferecendo-se para registrar os momentos de alegria dos clientes. Geralmente, o trabalho termina às 4 da manhã.
Morador da Lapa desde o início da década de 70, Gaúcho aborda seus clientes de maneira tímida. Sua postura pode parecer fria a alguns, mas logo vem uma explicação: - Não gosto de incomodar, nem de insistir. Respeito o cliente. Se ele quiser, ele aceita.
O modelito, o mesmo desde o início da carreira, é composto pela máquina pendurada no pescoço, terno vermelho escuro, gravata borboleta vermelha e cabelo arrumado a pente fino. O fotógrafo acredita que a preocupação com o visual traz mais confiança para o cliente, que se sente bem atendido e acaba tirando mais fotos.
No bolso do paletó, uma lista de todos os ilustres que já foram fotografados, entre eles Ivone Lara, João Nogueira, João Saldanha, Maria Bethânia e Moacir Silva. Gaúcho foi o responsável pelos últimos registros de Madame Satã, no lançamento de sua biografia, no segundo andar do Capela.
O Início
A carreira como fotógrafo só foi possível por causa de uma decepção amorosa. Ao descobrir que sua mulher já o havia traído duas vezes, Gaúcho decidiu sair de casa. Sem teto nem emprego, Sérgio conseguiu uma máquina com um amigo. E, assim começou a sua vida de fotógrafo na Praça da Cruz Vermelha. De lá, seguiu para a Praça Tiradentes, e só depois foi parar na Lapa.
Naqueles tempos, o fotógrafo tinha um laboratorista de confiança com quem revelava diariamente os filmes de sua Rolleiflex. Hoje, tempo em que não existe mais Rolleifllex e nem laboratorista de confiança, Gaúcho usa uma velha Fuji Instantânea azul. Gaúcho, que antes da era digital chegar fazia mais de mil cliques por mês, atualmente faz pouco mais de 5 fotos por dia, cada uma a 15 reais e, assim, ganha o suficiente para comer e pagar a pensão.
Hoje em dia...
Há pouco tempo, Gaúcho recebeu a notícia de que o filme para a sua Fuji vai parar de ser fabricado. Mesmo assim o fotógrafo não desanima e já arrumou outra alternativa. Começou a escrever, a mão, textos com a história do bairro. "Minha expectativa é fazer um livro. Já que trabalho há 37 anos na Lapa, estou escrevendo a história do bairro na minha interpretação", explica.
Apesar das decepções de dois casamentos arruinados, Gaúcho não se cansou de procurar a mulher de sua vida. São apenas 3 exigências: que tenha mais de 60 anos, que esteja nos trinques para trabalhar e participar de sua vida, e que não tenha medo de altura - já que o sonho do fotógrafo é casar no alto dos Arcos.
Preços
Como sistema de fotos Polaroid está por acabar - as máquinas Fuji de seu uso não estão mais sendo fabricadas, assim como os filmes - o fotógrafo Gaúcho precisa importar seu material. Por isso, o preço das fotos mudou para R$ 20.
Além disso, Gaúcho avisa que os capítulos de "A Minha História da Lapa", relatando os anos 50 e 60 (pesquisados) e de 70 pra cá (vividos e fotografados por ele), já estão sendo veiculados. O fotógrafo anuncia ainda que já aceita propostas ou sugestões para futuros livros, peças de teatro, cinema ou televisão.
Contato: gauchofotografo@yahoo.com.br
Atualização - 03.2010:
Sérgio Silveira faleceu em março de 2010. (☼ 1934 † 2010)
O enterro foi realizado na 4ª feira (17/03/2010) às 10hs, no cemitério do Catumbi.
Homenagem - 07.01.2011:
A choperia Brazooka faz uma homenagem ao fotógrafo nomeando o palco da casa de "Palco Sergio Silveira"!
Marina Cunha
Fui um dos milhares que se deixou fotografar com as lentes do "Gaucho", as vezes, jantando no Capela, noutras, no Bar Brasil, sempre ao lado de minha querida Izabel. Hoje, realizando um trabalho de Pós Graduação em História da Cidade do RJ, deparei-me com esse blog, trazendo-me lembranças boas. Parabéns ao seu idealizador!
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