quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Das páginas do samba: Mulheres com Samba nas veias invadem a Lapa - I

As meninas com Jorge Aragão na inauguração do Bossa Nossa Lapa

Todas as noites de quinta-feira uma Kombi branca vinda da Baixada Fluminense estaciona em frente ao número 170 da rua do Lavradio. E dela saem cinco lindas negras maquiadas com suas tranças estilosas. Não, elas não estão chegando para curtir a noite na Lapa. Pegam seus instrumentos musicais e sobem ao palco colorido do Bossa Nossa e dão um show, numa roda de samba das mais animadas. Elas integram o grupo Só Damas, formado há onze anos em Nova Iguaçu. Confira a programação.



Lisa Carvalho

E quer saber com toda sinceridade? Já vi muitos grupos de mulheres tocando samba, mas pela primeira vez conheço um com o samba nas veias. A união do cavaquinho da Vivi Araújo e do banjo da Lisa Carvalho com o pandeiro da Mari Araújo, o surdo da Renata Togeiro, o tantan da Michele Medeiros e o repique da Ellen Porto resulta num som que empolga, que faz levantar da cadeira e sair sambando. A parada é mesmo muito séria. Numa frase das mais preconceituosas, basta fechar os olhos e imaginar que são homens tocando. Preconceituosa mas com um fundo de verdade, pois ainda são poucas as mulheres que são feras entre ritmistas.

Entre as craques, por exemplo, posso citar Márcia Viegas (da banda de Jorge Aragão), Márcia Moura, Layse Sapucay, Lan Lan e Bianca Calcagni (hoje produtora da cantora Ana Costa). Na parte de harmonia a cantora Nilze Carvalho é uma das melhores no cavaquinho e, desde pequena, nos solos do bandolim. Mas um time como o destas lindas negras é difícil de encontrar.
Mari Araújo

Aliás, eu nem encontrei. Elas que me encontraram. Um grande amigo, o corretor de imóveis Jorge Eurico, que não via há um bom tempo mandou por e-mail uma foto das meninas com o telefone. Liguei, pedi o material e recebi um DVD de um show no Terreirão do Samba, na Praça Onze. Foi paixão à primeira vista. Elas não brincam. Não estão ali só pela beleza, pelo charme, pra fazer graça. Tocam e cantam o samba com uma pegada impressionante. Como dizia Mestre Marçal, com elas “o bicho pega”. Com sorriso, elegância e humildade, rola também um precioso profissionalismo. Elas são pontuais e sérias. E carregam seus próprios instrumentos. Sem frescura.



Michele Medeiros

Mas elas são perfeitas? Claro que não, ninguém é. Ainda estão aprendendo, mas são alunas aplicadas. Se algo sai errado, ouvem com atenção, corrigem e fazem de novo. E certinho. Cá pra nós, o carisma e o charme ajudam nos aplausos. A cada apresentação um modelito diferente. Nas roupas e nos cabelos. De coloridas tranças a originais penteados blacks. As pretinhas conquistam. E conquistaram até o poeta do Samba. Jorge Aragão foi acompanhado por elas ano passado, quando elas comandavam o Cozido do Bossa, no Bossa Nossa que fica ao lado do Rio II, no Autódromo.

Renata Togeiro

Para simbolizar estas meninas do samba, fico com a Renata Togeiro. Ainda não tinha visto uma mulher tocando surdo com tanta precisão e swingue. Em alguns momentos parece que nasceu com o instrumento, que é o coração do samba. É olhar e ficar fã, pois a menina tira onda, se diverte e varia na dinâmica, sem perder a marcação. Na dela, de mansinho, segue os passos de craques como Pirulito, Carlinhos Tcha Tcha Tcha e Mestre Gordinho. Ah, e agora ela está tocando uma cuíca com autoridade. Cheia de manha.

Cuidando da harmonia e do repertório das garotas, o responsável pela regência é o violonista Caetano Araújo. Ele também é o motorista da famosa Kombi. Famosa? Sim e muito. Mas as boas histórias da Kombiti eu conto semana que vem. Ah, e aproveita e dá uma passadinha ali no Bossa Nossa numa quinta-feira. Vai virar fã, hein...




Vivi Araújo acompanhando Aragão

 
por Marcos Salles

Um comentário:

  1. Fiquei encantada,com tudo que li!!Espero poder curti-las,ao vivo,em breve,já que costumo ficar na Lapa,direto,qdo vou a esta terra maravilhosa!!Abraços.

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