quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O carisma, a simplicidade, a voz e o violão de João Bosco. Um Mestre.

Qual a fórmula exata para encantar o público num show novo? Como seduzir, conquistar pessoas que vão prestigiar o artista na ânsia de ouvir e cantar junto seus sucessos, mas encontram a música inédita, a novidade? Complicado, né? Misturar a novidade com o conhecido pode ser uma boa receita para o aplauso. Mas nem sempre é assim. E no palco do Teatro Rival um mestre mostrou como é que se faz. Devagar, sem pressa, como se estivesse em sua varanda com seu violão. E que violão bonito de se ouvir. É João Bosco encerrando sua tourné do CD Não Vou Pro Céu Mas Já Não Vivo no Chão.



João Bosco. Ilustração: Nelson Porto
E logo no início ele conversa com o público e diz saber que todos querem ouvir “aquela” música. E que daqui a pouco ela vai. A galera entende e vai curtindo e ouvindo e aprendendo e aplaudindo cada música nova. É, porque nesta terra tão musical as rádios tocam apenas as cartas marcadas ou digamos, indicadas. E assim, muitas pérolas como as que estão no disco novo do João permanecem inéditas para o grande público.

Vejo João e lembro-me de quando estivemos juntos na gravação de um dos episódios do seriado Leandro e Leonardo, em Parati, em meados de 1992. Ihhh, faz tempo! Já era noite, jantávamos e lá fora uma grande festa na cidade. Até que começou uma brincadeira na mesa de que todos podiam ir dar uma canja na festa. Leandro não estava bem. Tinha dores de ouvido. Mas Leonardo botou pilha, João gostou e levantou. Foi andando pro palco. E fomos atrás. Eu, Leonardo, os Miquinhos Amestrados, o diretor Paulo Trevisan e a turma da produção. O povo olhava e não acreditava. João Bosco subiu no palco, pediu o violão emprestado e tocou. Tocou e tocou. Leonardo cantou. Eu e os Miquinhos Amestrados nos vocais. Uma festa. Por quase duas horas. Um presente para Paraty.

Mas voltemos ao show e o que vejo é o cantor junto com os músicos. Como se fosse um deles e não a estrela do espetáculo. Ou melhor, a estrela é a música de João Bosco. E rolam improvisos dos melhores. De hipnotizar a platéia. Tarefa difícil? Que nada. Fácil demais para quem sabe. A intimidade é tamanha que ele leva bronca do povo, que pede mais shows aqui pelo Rio. E João Bosco responde que “Vamos conversar isso aí. Sinto que tenho que vir aqui mais vezes”.

É um misto de carisma com simplicidade. Ou não será a simplicidade a exata tradução de ser carismático? É, pois até nas vezes em que parou para afinar o violão deu tudo certo. Um bom teste para a paciência do povo que teve de esperar um atraso de 45 minutos (já virou rotina em shows aqui no Rio) no horário marcado. E o povo é recompensado com a magia de João cantando, por exemplo, Vatapá (Dorival Caymmi) e Ligia (Tom Jobim). E também com seus sucessos como Jade, Corsário e Papel Marchê, para delírio da platéia, num bis esperado.

Mas até chegar aos sucessos o bom mineiro foi apresentando novas canções e ganhando aplausos e gritos de “você é o máximo, João”. Aplausos para parcerias com o filho Francisco Bosco, como Perfeição, Desnortes e Tanto Faz, ou as feitas com o fiel parceiro Aldir Blanc, Navalha e Sonho de Caramujo. E uma especial interpretação para o lindo samba Ingenuidade, de Serafim Adriano, que foi sucesso na voz do grande e saudoso sambista Roberto Ribeiro.

O show poderia ter continuado que ninguém ia perceber. Foi mágico. Uma noite em que só faltou você que não estava na platéia. E perdeu, pois como está num dos versos das novas canções, parece mesmo que João Bosco mora dentro da casca de seu violão...

 
 
Por Marcos Salles

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