Alô 2011, estou de volta. E neste nosso reencontro fico aqui pelo Circo Voador, um dos principais redutos da boa música na Lapa. E, entre os grandes shows que por aqui aconteceram, estão os de Tim Maia. Mesmo aqueles em que ele simplesmente não cantava o tempo todo, preferindo brincar com o público. Neste caso a parte de cantar ficava para seu fiel escudeiro, o saxofonista Tinho, que por sua vez apareceu outro dia no Bossa Nossa e deu uma canja bacana com o amigo Zeca do Trombone.
E falar de Tim Maia é lembrar que era chamado de nomes como abusado, exagerado, doidão, irresponsável e polêmico. Porém, o síndico da MPB também levou consigo títulos como gênio do suingue e craque do soul brasileiro, ambos por seu talento musical e por seu vozeirão, ainda hoje, quase doze anos após seu falecimento, tão copiado por muitos. Também sou fã de carteirinha do Tim e hoje escrevo algumas passagens curiosas que presenciei e até mesmo a vez que o entrevistei e acabei enrolando o esperto síndico, que entre outras coisas ensinou violão para o Rei Roberto Carlos.
Fora aqui da Lapa teve duas inesquecíveis apresentações que fez no hoje extinto Hotel Nacional, em São Conrado. Pra começar, ele demorou uns dez minutos para entrar no palco (isso após ser devidamente apresentado pela locução). A solução era o naipe de metais ficar repetindo enlouquecidamente a introdução de Joga Fora no Lixo até Tim Maia aparecer. E nem me pergunte o motivo da demora. Ainda nesse show, dos melhores já feitos por ele, a regência era feita pelo maestro Ivan Paulo. Incomodado pelo show à parte do maestro, filho do lendário Maestro Carioca, Tim Maia mandou um “singelo recadinho” pela produção para que Ivan ficasse mais calmo, chegasse para o cantinho do palco.
Em outra oportunidade, no estúdio 2 da Transamérica, também no Rio, impaciente com a inexperiência de um assistente que substituía o técnico de gravação e não conseguia gravar o agogô que Tim tocava, mandou para o assustado rapaz: “Assim não dá, mas faz o seguinte: troca comigo. Eu vou praí e você vem pra cá”. Num instante o assistente foi correndo chamar o técnico.Até que tive a minha vez e consegui marcar uma entrevista com Tim Maia. Foi para o Jornal O Dia, anos 80. E lá fomos eu e fotógrafo para o Barra Bella, na Barra da Tijuca. Chegando lá, um recado para que esperássemos um pouco. Meia hora depois, a recepcionista me chama e me passa o telefone. Uma voz dizia ser o secretário e pedia para que o fotógrafo não subisse comigo. Reconheci a voz inconfundível e disse: “Tá bem, Tim, estou subindo sozinho”. 1x0 para mim.
Subi, entrei e lá estava ele. Mas, após ligar meu micro-gravador e fazer a primeira pergunta, sobre seu então novo LP, lançado pela gravadora Continental, ele gritou: “Para tudo, que eu também vou gravar. Nunca te vi, não te conheço...”. Foi lá dentro e voltou com um gravador gigante. E também gravou nossa entrevista. 1x1.
Até que consegui enrolar e desmontar o Tim. Comecei a trocar o que seria uma ordem natural de perguntas. Ou seja, falava da infância e ia pros shows que ele faltava, ia pro tempo que morou nos Estados Unidos, voltava pra política ou sexo ou preconceito ou pros ensinamentos de Dona Maria Imaculada, sua mãe. Aí o Tim desligou o gravadorzão e reclamou: “Espera aí, você está me confundindo todo...”
Bem, semana que vem continuo a história deste meu encontro com Tim Maia. Fui.
Por Marcos Salles
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