sábado, 20 de maio de 2006

Passando o Samba a Limpo

Na noite desta terça-feira, dia 17, o Circo Voador apresentou uma ótima opção de música brasileira, e mostrou ter caído no gosto dos jovens. O evento da noite foi o “Samba em 4 Tempos”, projeto que visa mostrar o samba ao longo de toda sua história, e que se realizará todas as terças-feiras de Janeiro e Fevereiro. Para contar essa trajetória, revezam-se no palco quatro grupos, interpretando músicas de diversas épocas.


Compõem o evento quatro bandas que vêm chamando atenção no cenário musical carioca, e de presença certa nas casas de samba da Lapa. São elas: Anjos da Lua, Casuarina, Galocantô e Batuque na Cozinha.

Quem abre a noite é o grupo Anjos da Lua, liderado pelo cavaquinista Eduardo Galloti e tendo no vocal, e também no cavaquinho, Mariana Bernardes, um dos ícones da nova geração de mulheres sambistas da Lapa. A banda interpreta composições que marcaram o começo da história do samba, como “Pelo Telefone”, de Donga, o primeiro samba gravado. O repertório também conta com trabalhos de outros grandes baluartes como Noel Rosa, Ismael Silva, Wilson Batista e Pixinguinha.

Seguindo uma linha cronológica, o palco depois é tomado pelo Casuarina, grupo composto por jovens talentosos, e que tem como diferencial o bandolim bem tocado de João Fernando. O grupo canta músicas de uma das fases mais ricas do samba, apresentando obras de alguns dos sambistas mais considerados, passando por Cartola, Geraldo Pereira, Moreira da Silva, Jackson do Pandeiro e Nelson Cavaquinho.

Na terceira parte do show, começa a ser representado o samba nos meados da década de 70, período de contestação política devido à ditadura militar. Época de censura e de dribles na censura, que encontraram no samba e na MPB seu melhor veículo. Surgiam as composições engajadas, e Chico Buarque começava a ganhar reconhecimento no gênero. Para retratar esse tempo, quem canta é o Batuque na Cozinha, que além de interpretar o lado político, não deixa de mostrar o lado poético e alegre, com músicas de Paulinho da Viola, Candeia, Monarco, Dona Ivone Lara, e a fina flor da malandragem, Bezerra da Silva. O grupo, que se apresentou por muito tempo no Bar do Juarez, em Santa Teresa, desceu a ladeira e ganhou seu espaço na Lapa.

Por fim, para encerrar a noite com chave de ouro, entra em cena o Galocantô, para situar o público nos sambas de roda e de partido alto dos anos 80 aos dias de hoje. O grupo, que já é figura marcada na Lapa há muito tempo, interpreta com muita competência sucessos eternizados nas vozes de Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Fundo de Quintal e outros, surgidos nas rodas de samba espalhadas pelo Rio. A banda também mescla estilos, desde músicas mais cadenciadas, como as de João Nogueira, Moacyr Luz e Wilson das Neves, aos Sambas-Enredo campeões na avenida.
O projeto já fez sucesso quando foi lançado, em julho de 2005, e voltou com a mesma força nesse verão, prometendo esquentar as noites de terça-feira no Circo. Assim, torna-se uma boa escolha não só para os admiradores do ritmo, mas também uma alternativa para quem deseja se situar no mundo do samba, estilo que sempre representou o Rio de Janeiro e que continua se renovando e ganha cada vez mais adeptos entre nossos jovens.

 
Caio Nolasco

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