Seu Juan |
Em entrevista cedida ao Lá Na Lapa, seu Juan conta um pouco da sua história e de lembranças vividas na Lapa de outrora, expondo também seu ponto de vista sobre a vida no bairro hoje em dia
Como o senhor pode descrever a clientela que freqüenta o Cosmopolita?
De segunda à sexta, no horário de almoço, o nosso público tem uma faixa, que são os clientes mais fiéis e já conhecem o restaurante há algum tempo. Nesse horário encontram-se também quem trabalha pela região. Já à noite, principalmente sexta e sábado, o público muda, é um pessoal mais jovem e que gosta de ficar bebendo ali na varanda.
Então é no horário de almoço que se encontra aquela freguesia fiel.
Sim, a freguesia mesmo é a que vem no almoço, e uma bela freguesia. Esse restaurante no horário de almoço costuma ser especial porque nós aqui temos um prato bastante famoso que é o filé "Osvaldo Aranha", o original. Quem chega aqui e conhece já pede logo, pois sabe que é o melhor.
Falando nisso, conta pra gente a história do filé à “Osvaldo Aranha”?
Olha, eu vou te contar da forma que eu sei, que me contaram, pois quando surgiu eu ainda não estava aqui. A casa foi fundada em 1924, e a história do filé surgiu em 34, mas ou menos na época que o Osvaldo Aranha, então político importante, freqüentava o restaurante. Ele pedia o filé ao alho e óleo, farofa, fritas à portuguesa e arroz. Hoje em dia até servimos o prato um pouco diferente, pois trazemos todos os elementos separados, o Osvaldo Aranha gostava era do filé separado e o resto todo misturado.
Já teve algum dia marcante aqui, daqueles que você acha não irão se repetir?
Ah, sim. Um pouco mais recente, foram dois dias, vamos dizer, diferentes aqui. Em um eu até não estava aqui, mas tem foto pra provar que é verdade, foi quando entrou aqui o Mário Soares (ex-presidente português), com o seu segurança, pediu um chopp em pé no balcão, e quando estava bebendo reparou que estava se confundindo, pois achou que aqui era uma casa portuguesa, e disseram para ele que era uma casa espanhola. Mas, mesmo assim ele gostou muito e tirou até foto com o pessoal. O outro foi quando o ministro da justiça, Marcio Thomaz Bastos, reservou uma mesa aqui para oito pessoas. Eu nem esperava que fosse ele porque quem ligou para marcar foi a sua secretária, então foi uma surpresa para mim.
Você começou a trabalhar aqui numa época em que o país estava sob a ditadura militar, aconteceram alguns casos por aqui?
Não, não. Vou te falar que naquela época a Lapa era tranqüila, pois aqui não existiam aquelas reuniões de grupinhos revolucionários. Então nós não víamos confrontos entre manifestantes e militares.
E quanto à boemia daquela época, você já presenciou alguma briga de malandro aqui dentro?
Aqui no meu bar eu nunca deixei isso acontecer, mas briga de malandro existia. Por aqui andavam os “Táxis“, que eram cafetões e acompanhavam 4 ou 5 mulheres. Eram sujeitos bacanas, que andavam numa linha, sempre de terno branco, chapéu de panamá e sapato de duas cores, mas nunca provocavam ninguém, a não ser que você mexesse com uma delas. Aí o negócio ficava mais feio, mas não era nada com revolver, era na mão ou na navalha. Aqui existiam vários desses. Alguns como o “Carne Frita”, e o “Boi”, que era um que tinha vindo do México, eram famosos por aqui.
Para você, como é vista a boemia de hoje, ela não existe mais?
A boemia não acabou, mas também não é aquela, daquele tempo. Mudou muito, no passado era bem mais sadia, mas o pessoal também era de uma faixa etária diferente. Quem faz a boemia da Lapa hoje em dia é a garotada que freqüenta o Circo Voador e a Fundição Progresso.
Qual é a sua opinião sobre esse processo de criação de novos estabelecimentos, ajudando, no que dizem, na “revitalização da Lapa”?
Isso só veio a acrescentar a Lapa. A Lapa estava morta, entregue à violência – depois de uma certa hora ficava muito perigoso passar por aqui – e aos mendigos e travestis, que ainda existem, porém menos. Essas casas aí, como o “Asa Branca” por exemplo, estavam mortas, a Lapa estava morta.
Então você acha que foi uma boa mudança?
Na minha opinião foi muito boa, e continua sendo, pois estão abrindo mais casas novas, nos fins de semana a Lapa está ficando “top”. Eu queria que viessem aqui pra baixo (região que segue a Rua da Lapa em direção à Glória), aqui não tem nada, todos esses prédios antigos, feios, caindo, isso é ruim pra nós. Bom seria se aqui embaixo houvesse o mesmo movimento que está tendo lá em cima.
Qual casa você acha que hoje ainda mantém o espírito da Lapa?
Espírito da Lapa, hoje? Nenhuma. Nenhuma casa da Lapa tem o verdadeiro espírito da Lapa. Sabe Por Quê? Porque espírito da Lapa é a gafieira, ou o cabaré. Se tivesse um cabaré aqui, aí sim seria o espírito da lapa. Agora vemos alguma gafieira? Não. O que nós vemos? Forró, Rock? Isso não é o espírito da Lapa. Chegam perto aquelas que têm samba, que são quase todas, mas o verdadeiro espírito da Lapa, nenhuma.
E quanto à violência, que sempre existiu, o que o senhor tem a dizer?
A violência infelizmente ainda existe, e não é só no Rio de Janeiro, mas em São Paulo e nas outras grandes cidades. Vou te dizer que a Lapa perdeu com turismo assim como Copacabana também perdeu. O número de visitantes ao Rio de Janeiro poderia ser ainda maior. Hoje não existem mais aquelas casas noturnas onde famílias poderiam freqüentar como antigamente. Eu não sei como o Rio de Janeiro tem tanto turista ainda, mesmo sabendo de tudo isso que acontece e passa na televisão. Acho que o que nos salva ainda é a grande beleza dessa cidade. Mesmo assim, você pode ver que na Lapa os turistas vêm em grupos, de 6, 7 pessoas. Isso por quê?...Então. Mas eu acho que daqui pra frente vai melhorar, e precisa melhorar, porque o Rio é lindo.
O Cosmopolita é freqüentado por nomes famosos de nossa cultura, existe alguém relevante que o senhor possa citar?
Da música sim. O Martinho da Vila já freqüentou muito aqui, quando fazia show aqui na Lapa, o mesmo acontecia com o Almir Guineto, a Pérola Negra (Jovelina). Quando fazia show aqui no Asa Branca, na época que não era só forró, o Wando vinha muito aqui. Ele pedia que levassem comida daqui lá no camarim dele. O Maurício Carrilho quando dava aula de música por aqui , vinha muito com o irmão dele. E tinha o Pixinguinha, que já não é da época de vocês, mas devem conhecer, que sempre vinha com os colegas do grupo dele.
E alguns desses músicos conhecidos eram freqüentadores assíduos daqui?
O Maurício Carrilho chegava aqui e fazia um chorinho todos os sábados. Mas não era nada profissional, ele simplesmente chegava e começa a tocar, e aí ia chegando mais gente e tocava, e vinha mais gente ver, e de repente isso aqui ficava cheio aos sábados de tarde. O Pixinguinha em todo carnaval estava aqui, sentava naquela mesa ali - a quarta do balcão pra porta – com os amigos dele e fazia a festa, todo carnaval.
E para o senhor, o carnaval bom mesmo era o de antigamente?
Ah , sim. Naquela época o carnaval era muito diferente né. Aqueles desfiles na Avenida Rio Branco... hoje ainda estão voltando os blocos, mas, mesmo assim bastante diferentes. Antigamente tinha o “Bafo da Onça”, “Tenentes do Diabo”, que eram muito bons. Hoje o único que resistiu foi o “Bola Preta”, que mesmo assim já não é o mesmo.
E para quem ainda não conhece o Cosmopolita, o que o senhor pode oferecer ou anunciar?
Pode chegar a qualquer dia de segunda a sábado. O que eu posso sugerir, claro, é o “Filé à Osvaldo Aranha”, mas tem também o “Cabrito Assado”. Esses pratos, os outros ainda tentam imitar, mas os originais e melhores só se encontra aqui mesmo.
Caio Nolasco e Fernanda Sigilião
GRANDE ERRO !!!!
ResponderExcluirNAO CONTAR A HISTORIA DO SR. RAIMUNDO(FUNDADOR) E DO SEU PROPIO IRMAO QUE TAMBEM ERA CONHECIDO PELO APELIDO DE "RAIMUNDO" APESAR DE SE CHAMAR JOAQUIM E NAO JORGE COMO DIZ A ENTREVISTA, DO ARRANCA TRILHO, ENTRE OUTROS.
frequento este restaurante e digo que realmente um bom restaurante na lapa,genimário Azevedo
ResponderExcluir