segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Das Páginas do Samba: Saudades de Jovelina Pérola Negra

Milton Manhães e Jovelina
Jovelina Pérola Negra, a maior partideira que o samba já conheceu, faz falta na Lapa de hoje. Ela se foi na manhã de 2 de novembro de 98. Sofreu um enfarte, dormindo. E o destino privou as novas gerações de conhecerem esta sambista que era uma fera no partido-alto, vertente do samba que é marcada na batida do pandeiro com um forte refrão e versos que podem ser de improviso, feitos na hora. E ela foi a mulher que melhor versou nas rodas de samba. Era capaz de ficar horas improvisando e enfrentando craques como Almir Guineto, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz, Sombrinha, Marquinho China, Deni de Lima, Renatinho Partideiro e o falecido Baiano, entre outros.
E para falar de Jovelina, só mesmo uma série de algumas colunas. E começo hoje lembrando que a conheci numa madrugada no Pagode da Beira do Rio, em Oswaldo Cruz. Estava com meu gravador e registrei aquela negra cantando Flor Esmaecida, um lindo samba dolente, de Toco, da Mocidade Independente de Padre Miguel. Não imaginava que, meses mais tarde, meu mestre Mílton Manhães iria me chamar para produzir um disco, o velho LP, com novos nomes. Eram Zeca Pagodinho, Mauro Diniz, Elaine Machado, Pedrinho da Flor e ela, a Jojô, como passamos a chamá-la carinhosamente.
Agradeço ter sido co-produtor deste LP Raça Brasileira, gravado e lançado em 85. Na noite em que fomos ao estúdio da Som Livre, em Botafogo, para gravar um demo a ser avaliado pelo Bruno Quaino, então presidente da editora Sigem, ela atrasou. Chegou de Belford Roxo no início da madrugada, todos esperando. Mas foi abrir a boca e arrasar com sua Feirinha da Pavuna e versando de improviso com Zeca. E Seu Bruno bancou o disco.  
Foi na produção de seus discos que pude conviver e conhecer as histórias de Jovelina Farias Belfort, esta carioca que, por exemplo, em pleno século XX ainda guardava seu dinheiro no colchão. “esses bancos são muito complicados”, dizia ela com a pureza de quem tinha a vida como universidade. E por conta destas pérolas acabou por entrar para o folclore do samba. Termino o capítulo de hoje lembrando da noite em que colocava a voz na música Pomba Rolou. Foi um parto para que Jovelina cantasse a palavra satisfeito. Saía sempre “sartisfeito”. Após várias tentativas conseguimos, mas ela gritou. “No próximo disco só vou gravar música minha”. Era justamente esta ingenuidade que era fascinante na Jojô.
Semana que vem continuo a série Saudades de Jovelina falando de suas origens e mais algumas de suas pérolas. Até lá. Ah, e se você souber alguma boa da Jojô deixa como depoimento...
Marcos Salles

2 comentários:

  1. Que isso companheiro, gostaria eu de ter vivido isso...

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  2. salve jovelina,infelizmente não pude fazer um samba com ela,seria a maior honra tocar com ela,mais sei que ela está abençoando o nosso samba,pois ela é mais um anjo no céu:salve jovelina pérola negra

    AXÉ

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