terça-feira, 2 de agosto de 2011

Um a mais na estatística

Pronto!
Sou mais um a aumentar a estatística de assaltados.
Fui assaltado, Lapa!
Na moral, sem piedade.
Logo eu que nunca me imaginei assim
E desprecavido, chegando aqui, continuo
Tomado de assalto.

Passado o momento de torpor, toco a vida agora
Entre bares, entre seus tipos diversos, sua hora madrugada tão alongada...
Na postura impávida de suas gazelas, que matinais, voltam pra casa trazendo ainda consigo quase que intacta toda a produção noturna – make up, salto e tudo mais – de seu ofício travestido de humanidade.

E os que chegam apressados para iniciar outros tipos de jornada que se afastem na passarela.
A passarela da Lapa
Onde ela passa
E se vai
De onde ela volta?
A poesia sobrevivente
A história decadente
A convivência comovente dos opostos.

Todos a postos!

Sujou geral, mas agora tem que limpar
É tratamento de choque
A ordem impera
Onde antigos imperadores flanavam à noite
Hoje nem sei se ainda há algum tipo de malandro
Mas há também os que ainda dependem da rua, sim

Oferecendo panelas e mazelas
Mas não se cura e cicatriza de um dia para o outro.
A ferida estava exposta e profunda
Só que ninguém queria ver e ignorava
Agora muitos escolheram esse lugar e redondezas e não apenas para pura diversão.
Morada, irmão.
Glória, Catete, Santa Teresa e Flamengo.
A pé para o trabalho aos poucos estaremos curados de (quase) todo o mal.

Tudo bem que estão comercializando toda a espontaneidade e despojamento dessa causa sem heróis, mas se vivemos em tempos que até áreas de acampamentos possuem banheiros de alvenaria, por que crucificar quem oferece a alegria de calçadas ocupadas para o conforto dos que procuram e podem pagar (preços módicos) por uma boa mesa de bar?

A Lapa de outrora que era de comercio predominante de borracheiros e gráficas, e também de putas, veados, travestis e bicheiros, de infortunados amontoados em sobrados onde não sobrava espaço para mais ninguém, cedeu espaço para restaurantes, bares, bistrôs, antiquários, casas de shows e hostel!
Foram os anos 80! Sim!
Foram eles que sentenciaram o fim do Centro da Cidade, da Lapa, das curvas, do clássico.
Não fizeram por mal, era o momento do “nosso” rock’n’roll, toda a contestação e rompimento, mas com seu silkscream berrando em cores vivas nas fachadas dos prédios imemoriais, taparam toda uma beleza; e não só do Centro, mas de toda a zona norte também.
Desvalorizamos e deixamos agonizando ao implacável tempo antigas catedrais.

Agora corremos contra o tempo.
O poder público aparentemente chamou para si a tarefa de impedir que desmoronem essas muitas aparentes pequenas realezas, com suas fachadas desmoronando, mas que abrigam imensos sítios de pés-direitos seculares, contornos que essa nova geração parece querer apreciar.

Assalto consumado, eu me entreguei à Lapa.
Passo meus dias, tardes, noites na Lapa e seu entorno.
Faço aqui minha vida.

Queria convidar quem ainda suspeita da sua falta de segurança, de estrutura, gastronomia...
Não se preocupe, pois aqui estás seguro e amparado, na alegria de seu grupo, sim porque a Lapa é grupal.
Um imenso grupo feito de pequenos grupos que se juntam para uma experiência única, mas que se repete rotineiramente.

E quem vem só, só vem também porque aqui assim se é aceito normalmente.
E roupa?
Que ultraje!
Pensar que há a vestimenta certa para a Lapa.
A Lapa é da pluralidade completa de ternos, tailleurs, chinelos, bermudas, longos, sandálias, saias e jeans.
E grana?
A Lapa é para todos os bolsos, inclusive dos furados!
Chega de papo!
Digo, assim a seco.

Venha e seja bem vindo à Lapa: à trabalho, à passeio, no inicio do dia, no fim da noite ou no meio, principalmente no meio...
Isso mesmo
No meio de tudo que estejas planejando, fazendo ou querendo!
A Lapa te receberá em triunfo, sob seus arcos, com todo o devido respeito.
Até lá
Lá na Lapa!          
   
Marcelo Guapyassú
Empresário, músico, jornalista e escritor.

2 comentários:

  1. Minha querida Lapa, o point dos intelectuais, dos atuais, dos amantes e da boêmia carioca. Uns dos meus lugares prediletos, é um lugar que me faz senti livre, assim também como o bairro Stª Teresa, os dois são parecidos pelas suas características boêmicas, Marcelo Guapyassú adorei o o seu texto. . .Meus parabéns.
    Cris Cattanho.

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