Na semana seguinte ao carnaval estive à frente de um evento
chamado Apoteose do Samba, realizado num cruzeiro temático do transatlântico
MSC Musica. Indicado pela Adriana Barbosa, diretora de Marketing da MSC, fui
convidado pelo competente Cassio Spina, coordenador dos cruzeiros temáticos e
criei a programação deste Apoteose do Samba. Preferi não seguir a linha dos
shows com vários ritmos brasileiros, muitas danças e saí das cenas com
pandeiros rodados na ponta do dedo e da famosa pirâmide de ritmistas para
entrar em alguns temas e homenagear o próprio samba. Ou seja, unindo o bom
samba e a boa informação. E para isso montei um time de feras, entre músicos e
dançarinas.
Então, para começar a contar como foi este cruzeiro de
samba, vou nos nomes da equipe. Além de dirigir todo este povo, fui cantando ao
lado de uma fera. Falo de Richachs, o nosso Pavaroti do Sambódromo e sucesso
das noites de segunda no Carioca da Gema, aqui na Lapa, há vários anos. Na
harmonia, a dupla do Samba com Atitude, Perninha no cavaco e Roberto Chamma no
violão. E os dois também cantaram. Na percussão, sete craques: Alex Almeida,
Waltis Zacarias, Rafael Chaves, Bidu Campeche e as revelações Bruno Criolinho e
Fernando Chaves. Faltou um nome? De propósito. Ela é uma dama. Toca sua cuíca com
graça, manha e ainda canta bonito. Falo de Carol Sant`Anna. A menina parecia
uma veterana e arrasou. Aliás, estávamos muito bem na parte feminina, pois além
da Carol, tivemos as passistas Juliana Siruffo, Elisângela Hani e Dandan, além
de Ana Chantel e Nátila, como destaques.
Foram quatro apresentações. Na primeira, Lição de Samba – O
Musical. Uma sala de aula em que as matérias são os grandes sambas enredo, os
chamados históricos. Uma escolinha muito divertida em que mostramos que também
se pode estudar através de vários sambas enredo. Além dos sambas, executados
naquela boa cadência, sem a correria dos últimos anos, uma sala de aula onde
acontece de tudo, desde o aluno que chega atrasado à aluna CDF perseguida pelos
colegas ou a gostosa protegida pelo professor. Em cena, músicos que já nasceram
atores. Todos estes acima citados. E os mais saidinhos, como por exemplo, os
figuraças Alex Almeida, Fernando Chaves, Bidu Campeche e o Richachs.
O segundo show foi Uma Homenagem à Velha-Guarda, aos grandes
mestres que abriram as portas para nós que hoje trilhamos o caminho de nossas
vidas com o samba. Mestres como Donga, Cartola, Nélson Cavaquinho, Candeia,
Noel Rosa e o pai da Bossa Nova, Tom Jobim. Ué, Tom Jobim? Claro, pois ele
próprio afirmava que Bossa Nova era samba. Entendeu? Bossa Nova é samba. Todos
impecavelmente trajados, uma percussão educada, mesmo com sete músicos largando
a mão. Mas na disciplina, na maciota. Eu, Richachs, Roberto Chamma e Carol
cantávamos estas preciosidades. E, malandramente, guardei o clássico Gago
Apaixonado, do gênio Noel, para mim. E faturei um montão de aplausos e gritos,
né? Entre os sambas, eu contava curiosidades destes mestres. E ainda tivemos um
desafio de cuícas entre Carol, Bidu e Waltis. Um show. Destaque também para a
Juliana, a Dandan e a Elisângela. Lindas em seus vestidos, bailavam com os
passageiros pelo salão, como nas antigas gafieiras.
No final Uma Homenagem ao Cacique de Ramos com uma boa roda
de samba em volta de uma mesa, numa das piscinas do navio. Sou suspeito para
dizer se foi bom. É melhor perguntar ao povo que não parava de cantar, dizer
miudinho no pé e gritar para que o pagode não terminasse. Bom assim, né?
Mas foi a terceira parte que resultou numa explosão de
emoções. Foi formada uma bateria com 80 passageiros do Musica. O detalhe é que
quase todos esses nunca haviam chegado perto de um surdo, uma caixa, um
repinique, um tamborim ou um chocalho sequer. E tocaram lindamente. E teve até um
naipe de ousadias. Teve convenção, paradinha, paradona e até batida funk. Tudo
isso após uma aula de apenas 1h45min com a nossa rapaziada. Foi assim, na
paciência, no jeito, na manha, que Rafael, Bidu, Waltis, Fernando, Criolinho,
Carol e Alex, deixaram homens e mulheres, senhores, senhoras e uma menina de
apenas 12 anos, tocarem com beleza, firmeza, maestria. Como se já soubessem.
Foi emocionante, ao fim deste carnaval, receber os agradecimentos dos
integrantes da bateria. Como uma senhora que convenci a entrar para a aula e no
fim, ela me disse: “muito obrigado por este momento único em minha vida. Estou
feliz!”. Bacana, né?
Foram cinco dias de alegria, com paradas na praia de Porto
Belo ou nas cachoeiras de Ilha Bela. E muito samba fora do roteiro como os
pagodes noturnos na piscina ou o que teve na lancha, na volta de Ilha Bela. E
ficam os agradecimentos à equipe de produção que nos ajudou muito. A Regina
Spina, a Tata, o Sílvio, time do Cassio. Ao Stevie Basketeiro, que nos
emprestou sua cobertura para os ensaios. À Ludmilla Aquino, que emprestou sua
bela fantasia da Imperatriz Leopoldinense. Um agradecimento à parte ao meu
time. Estes músicos arrebentaram no profissionalismo e os atrasos foram poucos,
até porque esta lenda viva de que músico atrasar é normal, tem de acabar. O
relógio é o mesmo para todos e o profissionalismo, o comprometimento também.
Tanto nos ensaios quanto nos palcos.
Deixei para o final a parte engraçada. Teve um que me
perguntou se teria cama pra todo mundo, mas não conto o nome. Outro queria
levar toalha de casa e também guardo o nome, hehehe! Mas algumas boas posso
contar:
Bidu – Sempre ele, este folclórico personagem. Cheio de
disposição ele foi pra lojinha. Ela estava fechada e resolveu então dar um
mergulho numa das piscinas. E mergulhou. Com o dinheiro no bolso. Teve que
secar depois, né? E as notas voando na cabine! Ah, Bidu!
Richachs – Na hora de cobrar as bebidas no primeiro jantar
no restaurante o engraçado garçom Yoga ia lá dentro e voltava, pois a conta não
batia. Ele olhava pro Richachs e voltava. Até que tomou coragem e apontou pra
ele: “Falta, Gordon!”
Alex Almeida – Ficou devendo o salto mortal na cachoeira em
Ilha Bela. Mas o salto acabou acontecendo a bordo, quando foi equilibrar o
pandeiro no dedo, se desequilibrou e foi ao chão.
Roberto Chamma – Ganhou como lembrança, inúmeras picadas de
mosquito da cachoeira.
Waltis – Foi eleito o dançarino de funk revelação. Quebrou
tudo na boate, em várias velocidades.
Se alguém se lembrar de mais alguma me conta. E até a
próxima viagem...
Como de habito muito bom, valeu Marquinhos, grande beijo.
ResponderExcluirSueli Barcellos (palavrão)