terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Cartola



"Minha vida é igual a filme de mocinho. Só venci no final", resumiu o sambista, que foi dono, com a mulher Zica e empresários, do célebre Zicartola. Mais de quarenta anos da inauguração do bar – que funcionava na Rua da Carioca, 53, Centro do Rio - e ele ainda é considerado um divisor de águas na história da Música Popular Brasileira. "Foram os melhores anos da minha vida. A casa era freqüentada pela fina flor de Copacabana e pelo mais humilde sambista do morro, pois o Zicartola conseguiu integrar os compositores da bossa nova com aqueles que fizeram os inesquecíveis sambas cantados até hoje", defendeu Zica, em 1988, em reportagem publicada no Jornal do Brasil.
Fundador da Estação Primeira de Mangueira e responsável pela escolha das cores verde-e-rosa da escola, Cartola foi um dos artistas brasileiros de mais idade a lançar disco solo. Em 1974, aos 65 anos, gravou seus sambas num álbum individual, editado pela Marcus Pereira. Em 1976, gravou outro disco, pela mesma gravadora, ambos chamados apenas Cartola. Em 1977, lançou Verde de que te quero rosa e, dois anos depois, Cartola 70. Alguns meses antes de morrer, foi convidado a gravar um depoimento na Rádio Eldorado, onde narrou episódios marcantes de sua história e cantou suas belas músicas. Esta entrevista chegou ao mercado no ano seguinte com o título Cartola – Documento inédito. Todos estes long plays foram relançados em CD.

"Eu não tinha interesse nenhum por leitura. Mas um dia, quando eu estava mais ou menos com 25 anos, um primo me deu um livro de poesias de Humberto de Campos e eu gostei muito e passei também a ler Castro Alves e Guerra Junqueiro. Tem letras que vêm quase prontas. Outras vêm só com um pedacinho. Ponho num rascunho e guardo num canto até vir a inspiração. Prefiro fazer pouco mas fazer bem", pontuou Cartola, em novembro de 1974. Essa era a filosofia do sambista que, desde criança, quando saía nos ranchos carnavalescos de Laranjeiras, apreciava boa música e elegância, hábitos aprendidos com os pais Sebastião, cavaquinista, e Aída, sempre muito caprichosa com as fantasias do primogênito de oito irmãos.

"Um dia, o Mário Reis me comprou um samba por 300 cruzeiros. Era um dinheirão. Dava pra comprar um terno, mas terno bom, de linho branco, sapato, camisa, tudo. Gastei em roupa, em bebida e farra", confessou, anos depois. Francisco Alves foi o primeiro cantor a gravar uma música de sua autoria ("Que infeliz sorte!", em 1929) e, coincidentemente, seu primeiro sucesso popular ("Divina Dama", em 1933). Nestas oito décadas, a obra de Cartola – que ganhou este apelido quando defendia um trocado como pedreiro e, muito vaidoso, usava um chapéu-coco para proteger os cabelos do cimento – varreu o mundo e ingressou de uma vez por todas no primeiro time da música popular brasileira.



Por Mônica Ramalho

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